A grande honra ao mérito
Elen Braga
[14 de maio de 2016]
![](https://freight.cargo.site/t/original/i/2eda9cc0544be11d98c22de72fb85517876bedca9ad3218c3b5798418479f124/13161795_1237247072961712_5274237119042727211_o.jpg)
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Do alto das prateleiras para o chão – este é um dos deslocamentos feitos por Elen Gruber no projeto “A grande honra ao mérito”. A base onde as condecorações estão reunidas frisa sua repetição e esvazia temporariamente os seus contextos específicos. Os objetos que então convidavam a uma apreciação ascendente do corpo, remetendo a idolatria e respeito intocáveis, na organização proposta pela artista são integrantes de uma massa dourada que realça a planaridade do chão e a materialidade das peças.
É interessante constatar que os troféus são o ponto de chegada do projeto. Esses objetos materializam as capacidades positivas atribuídas ao outro – são pequenos monumentos à habilidade, eficiência e destreza de alguns indivíduos vistos como especiais. A aquisição desses objetos se deu não apenas fisicamente; seus proprietários transferiram seu mérito para a artista. Os diversos talentos pelos quais foram celebrados – em um leque amplo que vai de congratulações esportivas ao canto gospel – são passados para Elen através de documentos. Estes se encontram na exposição a fim de que o público constate a cessão e recepção voluntária entre ambas as partes. Um livro que reúne as biografias e depoimentos desses vencedores, além de um comentário da artista sobre cada um, completa a instalação. Trata-se, portanto, da apresentação, catalogação e arquivamento de vitórias.
A reunião desses elementos parece frisar melancolicamente o caráter competitivo não apenas da contemporaneidade, mas de certas narrativas da História – se esse trabalho pode ser lido como um grande monumento ao triunfo, quem lembrará dos perdedores? A instalação de Elen Gruber nos recorda que a celebração de algumas marcas individuais cria legados com o decorrer do tempo. Esses esforços individuais, quando reunidos em uma massa, talvez mais falem sobre o vazio existencial que tentamos preencher com todas essas atividades – até o ouro pode desbotar.
(texto curatorial relativo à exposição "Em suas marcas", de Elen Gruber, em co-curadoria com Ananda Carvalho e que fará itinerância entre 2016 e 2017 nas unidades do SESI de São José dos Campos, São José do Rio Preto, Campinas e Itapetininga)