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Alquimia


Anton Steenbock
[19 de abril de 2012]



A exposição individual “Gatilhos”, de Anton Steenbock, conta com curadoria de Fernanda Pequeno e está em cartaz até 27 de abril na Galeria de Arte Ibeu. Ao se adentrar o espaço expositivo, percebemos a multiplicidade de suportes trabalhados pelo artista: desenho, vídeo, fotografia e instalações. Diferentes objetos apropriados estão distribuídos pelo espaço, mas não transmitem sensação próxima ao amontoamento de informação visual. Pelo contrário, cada elemento é capaz de ocupar e respirar sem interferir no outro ser/obra ao seu lado.

Uma palavra vem à mente e creio que esta possa contribuir com nossa fruição: alquimia. Em sua etimologia há uma definição advinda do grego: “mistura de vários sucos”. O trabalho de Steenbock investiga a construção de imagens através da justaposição de partes frágeis e advindas de diferentes naturezas. Se em um momento vemos duas placas de vidro que criam um telhado fictício para um balão preto preso ao início de um pé de feijão, em outra região da sala observamos o confronto entre uma vela apagada que deverá, em breve, ser acesa pela potência de uma lâmpada elétrica logo acima.



Metáfora para as boas ideias, esta lâmpada aponta para uma segunda leitura junto a esta palavra pinçada: o artista como alquimista, ou seja, um cientista investigador das possibilidades dadas a partir destas conexões de mecanismos. A obra de arte aqui é como um experimento químico onde com um pequeno desvio matemático, com uma gota a mais da substância errada, explode e some aos olhos do espectador. “Sem título (vela autoextinguível)” comenta esse tópico: um copo d’água, linhas, uma pequena vela e uma caixa de fósforos oferecidos ao espectador. Se o público decide quebrar a quarta parede do cubo branco, o título da obra virá à tona e a própria chama da vela será responsável por destruir a estrutura do mecanismo, acionar a água e causar seu apagamento.




Os alquimistas medievais buscavam a “pedra filosofal” e com ela seria possível, por exemplo, fabricar um elixir da vida capaz de garantir a eternidade. A poética de Anton Steenbock aponta para o lado inverso: a arte, a vida e as velas são efêmeras e se autodestroem aos nossos olhos. Esta mesma pedra seria capaz de transformar alguns metais em ouro, do mesmo modo que o artista recodifica objetos comuns em arte e aciona em nossas memórias imagens que vão desde pinturas que representam laboratórios de alquimia à famosa abertura do programa infantil de TV “Rá-Tim-Bum”.


(texto publicado no Jornal do Commercio, na Página da Caza, em 20 de abril de 2012)
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