Infinitivo
Leandra Espírito Santo
[05 de junho de 2014]
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Desdobrar, embolar, costurar, encaixar; poderíamos dizer que a pesquisa artística que Leandra Espírito Santo vem desenvolvendo diz respeito à exploração dos verbos no infinitivo. De diferentes configurações do ambiente e dos modos de registro, seu trabalho tem se configurado como uma “poética do fazer”, ou seja, são imagens que demandam tanto um esforço da artista para construí-las, quanto do público para apreendê-las.
Os recentes barcos de papel (mais barcões do que barquinhos) se constituem como um trabalho com várias camadas expositivas e de leitura. O ato de fazê-los pode ser considerado uma performance oferecida à fruição do público que percebe o processo artesanal e de encaixe da estrutura. Num segundo momento, no espaço público, podem ser vistos como uma intervenção urbana e/ou instalação sujeitos à ação do tempo e da natureza. Por fim, também vivem como fotografia e ao serem vistos desse modo se transformam em uma narrativa de algo próximo ao realismo fantástico do cinema e que, inevitavelmente, nos coloca em contato com nossas lembranças de infância.
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Isso pode ser visto, por exemplo, na máquina de tricô utilizada em “De tudo fica um pouco”. Como que essas pequenas máquinas que emulam o trabalho adulto podem ter sido tão bem sucedidas em um país tropical como o Brasil? Quem, efetivamente, chegou a ostentar em seus pescoços essa lã vermelha? Nas mãos de Leandra Espírito Santo, o cachecol se converte em uma espécie de cordão umbilical; essa linha é um rastro da sua própria memória enquanto mulher adulta que agora se pode alastrar por outras gerações e corpos domesticados – seja pelo uniforme escolar, seja pela unidade capilar e loira das chapinhas.
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Desses verbos no infinitivo não ficamos com “um pouco”, mas sim com a curiosidade de observar de perto quais os próximos rumos (desdobramentos, embolamentos, costuras e encaixes) nascerão dessas mãos obcecadas não só pelo “fazer artístico”, mas pela ideia de trabalho em si.