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O prazer é nosso


OPAVIVARÁ!
[22 de dezembro de 2019]



O título desta exposição resume de maneira precisa a trajetória de quinze anos do OPAVIVARÁ!: o prazer, este substantivo historicamente desejado, mas também reprimido, não é teu ou meu, mas nosso. Essa frase que pensa o prazer não a partir de um só corpo, mas do compartilhamento de muitos traz em si a essência da trajetória do coletivo carioca. O corpo humano é o protagonista desta mostra e é a partir dele que os trabalhos aqui reunidos são experimentados pelos nossos sentidos.

Esta é a primeira exposição de caráter antológico do OPAVIVARÁ! e, portanto, o público do MAC Niterói é convidado a dialogar com obras que compõem um panorama de sua produção. O grupo surge em 2004 e é importante lembrarmos que esse desejo de produzir arte de maneira coletiva possui um lastro histórico que nos remete, por exemplo, às vanguardas históricas do século XX. Nesse momento, artistas de diferentes origens se encontravam para experimentar, pensar o mundo criticamente e responder às tradições artísticas vistas como antiquadas. Da sua geração de coletivos de artistas, o OPA! se configura como um dos poucos que segue na ativa, mesmo com alterações na sua formação inicial. No que diz respeito ao contexto histórico de suas propostas, o seu nascimento se deu paralelamente à crescente virtualização das relações humanas pela disseminação da internet – se as redes sociais existem para nos conectar virtualmente, as suas propostas convidam para estabelecer conexões presenciais.




A pesquisa do coletivo tem um enfoque central em atividades banais relacionadas ao prazer e/ou a necessidades vitais – comer, dormir, tomar banho, fazer música, pedalar e ir à praia são alguns exemplos. O público é convidado a realizar esses atos e encará-los como um ato artístico – seja junto a pessoas conhecidas ou a anônimos que estão no mesmo espaço expositivo. Para tornar essas experiências possíveis, é interessante notar como o OPA! se vale da criação de trabalhos tridimensionais a partir da apropriação de objetos utilitários: cadeiras de escritório, por exemplo, são unidas e são a base de “Carrosel breique”, uma grande ciranda de assentos que gira coletivamente.

Esses trabalhos reúnem algo de familiar, mas também estranho e é essa soma que apela para o desejo de experimentação do público. Diferentemente de outras exposições em que o corpo do espectador fica na dúvida se pode ou não tocar nas obras mostradas, aqui, se não há interação, não há experiência artística. A arte do OPAVIVARÁ!, portanto, está certamente para além da experiência pautada meramente na retina e pede, como diria o curador e crítico brasileiro Frederico Morais, que o corpo seja o motor da obra.

Grande parte dos trabalhos reunidos nessa pequena retrospectiva estão no salão central do MAC, mas o público notará tanto algumas de suas obras no pátio do museu, quanto também suas cadeiras de praia colocadas por diferentes áreas do prédio. Assim como a experiência social de se estar no espaço público, as proposições pensadas pelo coletivo também querem se dar a oportunidade de estarem dispersas e mesmo transportadas daqui para acolá.




Por fim, além destes trabalhos que remetem não apenas à apropriação de objetos, mas também ao importante lugar que a palavra e a poesia ocupam na prática do OPA!, achamos necessário trazer ao público uma seleção de vídeos de diferentes momentos de sua trajetória que demonstram a sua interseção com diversos usos do espaço. Longe do desejo de transformar esta exposição em um arquivo, era importante contar com esses vídeos que podem ser considerados já documentos dos últimos quinze anos da história das artes visuais no país.

Essa exposição vai ao encontro do programa curatorial do MAC Niterói e seu interesse pela equação entre lazer, prazer e artes visuais. Essas questões eram latentes nas últimas duas exposições apresentadas no salão central – “Riposatevi”, de Lucio Costa e “Tempo aberto”, de Federico Herrero. A prática do OPAVIVARÁ! dá prosseguimento a essas reflexões e nos permite que relacionemos suas atividades com outros coletivos na América Latina e em outras áreas do mundo. A união certamente faz a força.

(texto curatorial escrito com Pablo León de La Barra a respeito de “O prazer é nosso”, exposição do OPAVIVARÁ! no MAC Niterói, aberta entre 23 de dezembro de 2019 e 01 de março de 2020)
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