Reformar
Reginaldo Pereira, Renata Cruz e Renato Leal
[16 de dezembro de 2016]
REFORMAR é uma exposição construída a seis mãos pelos artistas Reginaldo Pereira, Renata Cruz e Renato Leal. Mais do que uma exposição coletiva, poderíamos afirmar que se trata do encontro entre três artistas que se transformaram em bons amigos e que pensaram detalhe a detalhe deste projeto, entre ideias mil e cafés.
O ponto de partida dessa proposição foi o encontro deles com o espaço do Sesc Santo André – como responder à peculiar arquitetura do prédio? Após observarem a Galeria do espaço e notar os painéis instalados para receberem obras, a faísca foi dada e os artistas optaram por se apropriar da materialidade das estruturas. Em vez de se utilizar das paredes móveis como suporte para suas obras bidimensionais ou tridimensionais, REFORMAR traz (desde o seu título) o desejo de repensar as possibilidades expográficas a partir da apropriação escultórica dos painéis. A naturalização, portanto, desse dado no espaço é descartada, e os artistas convidam o público a estranhar o todo.
Essa exposição é constituída tanto por trabalhos individuais dos artistas, quanto por propostas espaciais criadas coletivamente. É possível estabelecer pontos de contato entre as obras dos três no que diz respeito à semelhança formal ou poética, porém fica também o convite ao público para que perceba suas diferenças.
Os quatro textos seguintes contribuem para o olhar do visitante e tocam em alguns dos aspectos centrais da exposição: cor, geometria, luz e corpo. Espalhados em pontos específicos da exposição, essas linhas escritas desejam incentivar a ampliação de leituras dessa reunião de trabalhos e estabelecer conexões das imagens entre si e com referências externas.
Diferente de textos de parede, essas folhas de papel pedem para serem levadas para casa e convidam o leitor a se lembrar e ativar a exposição à distância. O desejo de reforma, por fim, nasce aqui e anseia em se espalhar por diferentes esferas vitais do público.
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COR
GEOMETRIA
Toda construção arquitetônica é, inevitavelmente, uma projeção geométrica. Seja um prédio modernista projetado por um escritório, ou um edifício indígena construído coletivamente por um grupo de indivíduos, é possível afirmar que todo edifício responde a uma projeção mental que parte de uma forma. No caso do Sesc Santo André, o prédio foi projetado por quatro arquitetos – Arthur Delgado, Fernando Pires, Tito Livio Frascino e Vasco de Mello – em 1992, e concluído em 2002. Seu pé direito alto e suas rampas que cortam as salas e criam andares diferentes para o público e eventos organizados, chamam a atenção de seus frequentadores. O mesmo pode ser dito sobre as obras aqui apresentadas, que também perpassam essa relação entre forma geométrica e imagem, projeto bidimensional e construção tridimensional. Os livros de Renata Cruz e Reginaldo Pereira são, por si só, formas geométricas que organizam imagens. As obras de Renato Leal articulam alterações na forma que se dão em um espaço específico. Assim como o deslocamento dos ponteiros de um relógio, seu cubo se move sequencialmente até chegar ao formato de um triângulo. De modo semelhante, outra de suas peças colocadas no chão convida o público a reformar geometrias de diferentes volumes e escalas. É também a geometria e sua relação com a arquitetura que permite que o olhar de Reginaldo Pereira preencha com concreto cantos de livros e envolva blocos de papel. Este interesse pela geometria fez com que Luiz Sacilotto, importante artista construtivo brasileiro nascido em Santo André, elegesse as linhas retas e as cores primárias como suas maiores obsessões. Sua importância para a cena local e para a história da arte no Brasil levou à apropriação de Reginaldo Pereira de um livro e preenchimento de seu canto com concreto. O passado é ecoado pela exposição, mas ao mesmo tempo recodificado pela ação do presente – assim como toda arquitetura sofre as intempéries do tempo.
LUZ
A geometria de um edifício costuma ser pensada em relação a outro elemento essencial do fazer arquitetônico: a luz. A posição de um prédio e sua relação com o sol e outros fenômenos naturais é uma das primeiras preocupações na articulação entre arquitetura e engenharia. Assim como um pintor, os arquitetos podem brincar com nuances entre claro e escuro, iluminação e sombra. Esse elemento estrutural do ato de se construir levou os artistas a inserirem elementos na exposição que versam sobre ele. Um deles é um recorte geométrico feito na cobertura de um dos espaços criados, desenho retirado de um detalhe da obra de Sandra Cinto, artista nascida em Santo André e que realizou um extenso mural em azulejo que percorre grande parte da piscina do Sesc. REFORMAR presta também uma homenagem à Lina Bo Bardi, trazendo um de seus painéis expográficos de vidro e concreto ao espaço. A partir dessa presença, os artistas apontam para uma reflexão não apenas sobre a luz, mas também à ideia de transparência. As relações, portanto, entre geometria, luz e cor são indissociáveis e essenciais tanto para os artistas, quanto para os espectadores.
CORPO
(texto relativo à exposição "Reformar", de Reginaldo Pereira, Renata Cruz e Renato Leal no SESC Santo André realizada entre os dias 12 de outubro de 2016 e 19 de fevereiro de 2017)