Rio sem fumaça
Flurin Busig & Manu Engelen
[06 de setembro de 2013]
As pinturas de Manu mostram, como ele comentou algumas vezes, a presença do humano através da construção de objetos, máquinas e arquiteturas. Temos um indício do homem através de suas criações e sua cultura material. Se esse é um dos pontos de partida, os resultados obtidos apontam para interpretações que podem levar em consideração, por exemplo, aproximações formais feitas a partir de como ele conjuga frente e fundo em relação a pintores (De Chirico, por exemplo) preocupados em explorar a relação entre um espaço que poderia ser chamado de clássico, mas que assume o seu caráter de ficção. As cores sobre a tela são representações de aviões ou uma exploração de sua forma geométrica inicial – ou apenas pinceladas. Imagens potentes são criadas e capazes de articular a monumentalidade da arquitetura e a apreensão do sublime da paisagem. Habitação e vapor caminham lado e lado e intrigam o espectador com seu caráter icônico.
Voltando ao título desse encontro entre Flurin Busig e Manu Engelen, podemos olhar seus trabalhos justamente através da proposição ou do desafio de desarticular o humano (o sujeito risonho) da fumaça (aquilo que escapa às medições e ao domínio do homem). Constroi-se, então, para se descontruir; projeta-se para se duvidar daquilo que acabou de ser feito; e, por fim, se esforça para se sair do lugar seguro. Afinal de contas, sair de sua cidade de origem, seja ela na Bélgica ou na Suíça, para habitar um espaço da alteridade por um mês, não é também por si só um esforço pela desarticulação?
(texto para a exposição da primeira edição do Programa Internacional de Residências, no Barracão Maravilha, entre 31 de agosto e 6 de setembro)