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Sem título


[08 de setembro de 2012]



Logo após adentrar o Espaço Apis, ocupado pela exposição “O que te escolhe, te move e alcança o mundo”, se vê à direita uma abertura que indica a passagem para uma segunda sala. Ao seu lado, em formato retangular que recorda uma porta, há um quadro de autoria de Bet Katona. Adequado seria lidar com este objeto tendo em mente a tradição da pintura, ou seja, pensa-lo como uma janela. Mas o que se vê através desta imagem?

A estrutura visual desta pintura frisa, em parte, o seu contorno, tal qual uma moldura. Poderíamos afirmar, então, que se por um lado este trabalho não é moldurado, por outro incita um retângulo sobre/dentro do objeto retangular. A cor preta que dá este efeito contrasta de modo pungente com um tom de rosa fosforescente. Impressiona o modo como esta imagem salta aos olhos dentro do espaço expositivo e me obrigou a voltar a ela mesmo que estivesse já do outro lado da sala, criando uma ansiedade em construir um inventário pessoal de apreensões em diversos ângulos.

Essa potência visual se deve ao seu caráter monumental pautado na economia formal. Não se tira, nem se põe nada nesta pintura; precisão e verticalidade parecem ser as molas-mestras desta pesquisa artística. E o que são estas formas? A pergunta já denuncia a minha primeira resposta – o quadrado quase ao centro retângulo me incita relações óbvias e que me deixam em um lugar seguro: Malevich, Mondrian e Van Doesburg. Há algo, porém, de diverso aqui: ele tem pernas. Duas linhas pretas partem de seu centro e uma delas esbarra com semelhante forma à sua direita.

Distancio-me da imagem e volto a observar uma janela tal qual ditada por Alberti. Haveria, então, incidência mimética e de perspectiva? Estaríamos diante da recodificação de uma paisagem? Seria isto uma máquina? Leio a plaquinha com seus dados técnicos e me surpreendo: “sem título”. É interessante a ausência de qualquer nome próprio para esta imagem.

A partir do silêncio desta pintura, duvidar se faz essencial. Sem identificações, sem direcionar a leitura do espectador, sem deixar marcas de pincel sobre a tela. Como já diria Leonardo da Vinci, “a pintura é poesia muda” – e a mudez, em um mundo tão verborrágico, é mais do que bem-vinda.
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