Sobre o livro “Menos-valia [leilão]”
Rosângela Rennó
[18 de maio de 2017]
São Paulo: Cosac&Naify, 2013.
Pouco mais de dois anos após o término da 29ª Bienal de São Paulo é publicado um novo livro sobre a pesquisa artística de Rosângela Rennó. Trabalho realizado nesta edição do megaevento de arte contemporânea, “Menos-valia [leilão]” dá prosseguimento às suas reflexões sobre a relação entre imagem fotográfica, memória e política.
Tratava-se da exposição e posterior leilão de setenta e quatro objetos constituídos a partir da sua passagem pelas mais diversas feiras de antiguidade em países como o Brasil, Espanha, Estados Unidos e Uruguai, por exemplo. Entre o Velho e o Novo Mundo, uma constância: o desapego demonstrado pelo baixo valor de compra desses objetos que já poderiam ser chamados por “tralhas”. Se algumas das máquinas fotográficas selecionadas para compor essas obras um dia já foram consideradas tecnologia de ponta, agora elas faziam parte da cultura material do século XX.
Além de imagens da instalação e de sua venda na bienal, o livro contém textos escritos por quatro diferentes autores. Partindo de diferentes trilhas, estas escritas acabam por tangenciar um mesmo grupo de referências teóricas. Nomes como o de Benjamin e Baudelaire aparecem nas argumentações. O ato de se leiloar e conseguir se atingir, por exemplo, 30488% de lucro em um dos objetos (seja pelo peso do nome de Rennó no mercado de arte atualmente, seja pela referência explícita a uma obra de Lygia Clark) endossam as reflexões sobre a economia da arte contemporânea.
Por fim, é realizado um catálogo das obras expostas nesse projeto. Configuradas como bricolagens acerca do contexto fotográfico, não apenas suas formas chamam a atenção, mas também as próprias descrições feitas pela artista. Frases mais narrativas do que descritivas, como “Um objeto melancólico, talvez o souvenir de uma lua de mel nunca realizada, onde uma melodia é o que pode restar de um sonho desfeito”, fazem com que o leitor se lembre da importância da escrita e da ficção na poética de Rennó. Espera-se que em um futuro próximo outras publicações sobre sua produção artística venham à tona e olhares minuciosos possam contribuir com a expansão de sentidos de suas imagens.
(texto publicado originalmente na Revista Dasartes, na edição de abril-maio de 2013)