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Sobre o livro "O universo de Francisco Brennand”


[24 de agosto de 2012]

“O universo de Francisco Brennand”
Organizadores: Alexei Bueno, George Ermakoff e Mariana Brennand FortesG. Ermakoff Casa Editorial



Como transformar um percurso de cerca de setenta anos de produção plástica em um livro? Essa é a pergunta fulcral que, creio, os organizadores devem ter feito antes de sua preparação. A carreira de Fernando Brennand, atualmente com oitenta e cinco anos, é recodificada em um livro que se apresenta como uma espécie de catálogo de sua produção.

Esta retrospectiva abre com um texto de autoria de Ferreira Gullar e um segundo de Alexei Bueno, um dos organizadores do projeto. Na sequência, fotos em alta qualidade mostram talvez o seu maior projeto, feito na arquitetura da Cerâmica São João, em Recife, fábrica um dia administrada por seu pai. Atualmente conhecida por Oficina Brennand, a série de edifícios se caracteriza por ser um work in progress de suas esculturas feitas através da cerâmica. Instaladas majoritariamente ao ar livre, estes trabalhos alteram o espaço originário e criam cenários permeados por formas fragmentadas, totêmicas ou, como o próprio artista diz, oníricas.

Na sequência, numa seção intitulada “As mil e uma obras”, uma série de imagens produzidas em desenho, pintura e escultura, entre 1947 e 2011. Por fim, uma cronologia detalhada do percurso do artista é incluída, além de textos advindos de diferentes momentos de sua fortuna crítica. O livro se configura como importante introdução ao trabalho de Brennand visto que, como o próprio organizador comenta, ainda se configura como um artista que carece de bibliografia.

Com uma poética que claramente está vinculada à arte moderna (notório saber que o artista teve contato com a cena parisiense da década de 40), esta publicação se configura como uma oportunidade de que novos olhares sejam lançados sobre sua obra. Seria interessante encontrar leituras que não apenas relacionem seu trabalho com a representação de uma certa “brasilidade” que pode ser percebida através de seu contato com Ariano Suassuna ou, por outro lado, pelo próprio material com o qual ele trabalha, o barro, que pode apontar para leituras pueris que roçam esse complicado conceito que é a “arte popular”.



A pergunta que fica após a apreciação desse importante livro é: quais outros caminhos percorrer? Como sair do lugar seguro da contextualização e fruição artística e ser capaz de estabelecer paralelos não documentados? Creio que algumas respostas podem estar em outros nomes da arte moderna, como Constantin Brancusi, ou mesmo dentro da temida arte contemporânea, com artistas como Beatriz Milhazes e Erika Verzutti. Críticos e historiadores, portanto, mãos à obra.


(texto publicado originalmente na Revista Dasartes, na edição de agosto-setembro de 2012)
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